NÀNÀ
Entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, existe um portal. É a passagem, a fronteira entre a vida e a morte.Sua regente: Nànà. Senhora da morte, geradora de Iku (morte). Deusa dos pântanos e da Lama. Mãe da varíola, regente das chuvas, Nànà é de origem Jeje, da religião da Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida com República de Benin.
A mais temida de todos os òrisás. A mais respeitada. A mais velha poderosa e séria. Nànà é o encantamento da própria morte. Seus cânticos são súplicas para que leve Iku – a morte – para longe e quem permite que a vida seja mantida.
É a força da Natureza que o homem mais teme, pois ninguém quer morrer! Ela é a Senhora da passagem desta vida para outras, comandando o portal mágico, a passagem das dimensões.
Nas casas de Santo, Nànà é extremamente cultuada e temida, pelo poder que ostenta. É ela a mãe da varíola e se faz presente quando existe epidemia da doença.
Nànà também está presente nos lodaçais, lamaçais, pois nasceu do contanto com água com a terra, formando a lama, dando origem à sua própria vida. Em terras da África, Nànà é chamada de Iniè e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho. Nànà é lama, é terra com contato com a água. Nànà também é o pântano, o lodo, sua principal morada e regência.
Ela é a chuva, a tempestade, a garoa. O banho de chuva, por isso, é uma espécie de lavagem do corpo, homenagem que se faz à Nànà, lavando-se no seu elemento. Por isso, não devemos blasfemar contra a chuva, que muitas vezes estragamos passeios, programas, compromissos, festas e acontecimentos. A chuva é a parte da vida, que vai irrigar a terra, Se ela cai demais, é porque a força da Natureza, Nànà, está insatisfeita. E, amigo... Queira ver tudo, mas não queira ver a ira de Nànà. Posso lhe assegurar que não existe nada mais feio!
Considerada a Iyabá (òrisá feminina) mais velha, foi anexada pelos iorubanos nos rituais tal a sua importância. Nànà é a possibilidade de se conhecer a morte para se ter vida. É agradar a morte, para viver em paz. Nànà é a mãe, boa, querida, carinhosa, compreensível, sensível, bondosa, mas que, irada, não reconhece ninguém.
Nànà é o òrisá da vida, que representa a morte. E a isso devemos o máximo respeito e carinho.
Nànà, Senhora de Dassa Zumê, mãe de Òmolú, Òsonìyn, Òsùmarè e Ewá, elegante senhora, nunca se meteu preocupou com o que este ou aquele fazia de sua própria vida. Tratou sempre de si e dos filhos, de forma nobre, embora tenha sido sempre precoce em tudo.
Entretanto, Nànà sempre exigiu respeito àquilo que lhe pertencia. O que era seu, era seu mesmo. Nunca fora radical, mas exigia que todos respeitassem suas propriedades.
E, mas uma vez, vemos Ògún numa historia.
Viajante, conquistador, numa de suas viagens, Ògún aproximou-se das terras de Nànà. Sabia que o lugar era governado por uma velha e poderosa senhora. Se quisesse, não seria difícil tomar as terras de Nana, pois, para Ògún, não havia exercito, nem força que o detivesse. Mas Ògún estava ali apenas de passagem. Seu destino era outro, mas seu caminho atravessava as terras de Nànà. Isto ele não podia evitar e nem o importava, uma vez que nada o assustava e Ògún nada temia.
Na saída da floresta, Ògún deparou-se com um pântano, lamacento e traiçoeiro, limite do inicio das terras de Nànà. Era por ali que teria que passar. Seu caminho, em linha reta, era aquele – por pior que fosse e não importando quem dominava o lugar. O destino e objetivo de Ògún era o que realmente lhe importava.
Parou à beira do pântano e já ia atravessá-lo quando ouviu a voz rouca e firme de Nànà:
- Esta terra tem dono. Peça licença para penetrar nela!
No que Ògún respondeu em voz alta:
- Ògún não pede, toma! Ògún não pede, exige! E não será uma velha que impedira meu objetivo!
- Peça licença, jovem guerreiro, ou se arrependerá!, retrucou Nànà com a voz baixa e pausada.
- Ògún não pede licença, avança e conquista! Para trás, velha, ou vai conhecer o fio da minha espada e a ponta de minha lança!
Dito isto, Ògún avançou pelo pântano, atirando lanças com pontas de metal contra Nànà. Ela, com as mãos vazias, cerrou os olhos e determinou ao pântano que tragasse o imprudente e impetuoso guerreiro.
E assim aconteceu...
Aos poucos, Ògún foi sendo tragado pela lama do pântano, obrigando-o a lutar bravamente para salvar sua própria pele, debatendo-se e tentando voltar atrás. Ògún lutou muito, observado por Nànà, até que conseguiu salvar sua vida, livrando-se das águas pantanosas e daquela lama que quase o devorava.
Ofegante e assustado, Ògún foi forçado a recuar, mas sentenciou:
- Velha feiticeira! Quase me matou! Não atravessarei suas terras, mas vou encher este de pântano de aço pontudo, para que corte sua carne!
Nànà, impassível e calma, voltou a observar:
- Tu és poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas. Por minhas terras não passarás, garanto!
E Ògún teve que achar outro caminho, longe das terras de Nànà. Esta, por sua vez, aboliu o uso de metais em suas terras. E, até hoje, nada por ser feito com laminas de metal para Nànà.
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Metal: latão;
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Comida: Aberem (milho torrado e pilado do qual é feito um fubá com açúcar ou mel), mugunzá;
Arquétipo: tolerantes, mas implicáveis maduros, lentos, firmes, bondosos, simpáticos, extremamente limpos e com temperamento artístico;